4ª Etapa :: San Sebastian / Belmonte / Portimão
1º dia
Chegou o dia da abalada...mesmo ontem já cá estava só por estar..para descansar de Pamplona.. Quando viajo sozinho sinto que o tempo sobra.. Então, bem descansado e com vontade de voltar para Portugal, acordei às 5h, fiz o check out e pelas 6h15 estava a sair da Repsol à saída de San Sebástian. Que erro!!
Corria tudo bem...vinha animado, mas quando comecei a subir aquelas montanhas.. comecei a sentir um gelo difícil de suportar.. deviam estar temperaturas a rondar os 8ºC e só o casaco e calças de ganga não chegavam! E só reconfortava quando passava nos túneis onde a temperatura aumentava aí uns 5/6ºC..
Vinha com quase 130kms feitos quando parei numa estação de serviço da A-1 à entrada de Miranda de Ebro. Ainda nem estava aberta, à excepção daquela janelinha para fazer os pagamentos, mas a senhora deixou-me entrar quando viu que estava cheio de frio. Tinha de segurar o café com as duas mãos porque só uma mão fazia o copo de plástico tremer tanto que derramava e não conseguia controlar. Baixei-me várias vezes para dobrar e esticar as pernas. Entretanto chegou um cliente conhecido na bomba, conversou bastante com a senhora da caixa até que a conversa virou para o meu lado. Perguntou de onde era, e quando lhe disse Portugal ele responde que nasceu em Trás-os-Montes, mas que em criança foi viver para o Basco. Contei-lhe de Pamplona, desejou-me boa viagem e foi-se embora. Eu já estava mais compostinho e segui viagem também, de volta ao frio!
Frio por frio, o melhor é ir de punho trancado direito a Sul, porque sabia que ia estar um dia quente "para os meus lados". Atestei em Pancorbo e voltei a parar no El Cazador já perto de Valladolid para atestar mais uma vez e comer uma sandocha que tinha preparado na noite anterior. Pedi lá a um épañol para me ajudar a pôr óleo na corrente e aqueci com mais um cafezito. Eram dez da manhã e ficava agora a saber por alto, da tragédia que tinha ocorrido em Nice. Voltei à estrada, mas agora por um caminho diferente.
Em Tordesillas mudei de estrada para o sentido de Zamora. Uma estrada que fazia lembrar a Via do Infante para os lados de Tavira. Quase não passavam carros e a paisagem em redor era seca e quente. Em Zamora troquei-me todo, a pressa de sair da autoestrada e seguir por Nacional era tanta que me enganei no caminho. Fiz aí uns 30kms para trás meio incerto do caminho e só assumi o erro quase a chegar a Toro. Mais 30km para voltar onde me tinha perdido e abasteci noutro posto que não o previsto. Não faz mal, só faz é bem!
Salto de Villalcampo |
Voltei a entrar na A-11 que "desagua" numa nacional, a N-122. A passar uma pequena ponte com grande paisagem sobre o rio Esla, vinha com o nome Ricobayo na cabeça, era nesta terra que tinha de virar para chegar à fronteira com Portugal, mas não foi preciso grande memória. Logo a seguir à ponte uma placa com a indicação 'Portugal - por Miranda'. É aqui!
Salto de Villalcampo |
Salto de Villalcampo |
A animação de estar tão perto da fronteira, e as curvas desta pequena estrada municipal, com grande visibilidade e um alcatrão de confiança, deram aos últimos quilómetros espanhóis um elemento especial. Voltei a estar em "passeio"!
Ora aí está!! Terra de Camões, de Fernando Pessoa, Tonicha, Quim Barreiros e outros mais! Dos Silvas, dos Santos, Ferreiras Pereiras e Oliveiras! Muito contente quando vi esta placa, e apenas estive fora uns poucos dias..
Fronteira - Miranda do Douro |
Entrei em Miranda do Douro às 13h30, 12h30 agora que já estava em Portugal, onde parei só para ligar para casa. Segui caminho pela N-221 que é um luxo para andar de mota. Ainda mais num dia solarengo destes!!
Fronteira - Miranda do Douro |
vista de Miranda do Douro |
algures na N-221 |
Entre curvas e mais curvas, cheguei a uma terra da qual falo há muitos anos sem saber sequer se existia. Cheguei a Freixo de Espada à Cinta!! Parei para abastecer e resolvi fazer uma aposta no Euromilhões nesta bela localidade.. Olhem que história.."-saíu-me o euromilhões em Freixo de Espada à Cinta!" .... Não, não aconteceu...é uma pena..
Depois do Freixo ainda ficou melhor.. a N-221 entre Freixo e Barca D'Alva devia estar num qualquer roteiro para quem anda de mota.. Da minha parte, obrigado! Obrigado a quem desenhou esta maravilha de curvas apertadas a serpentear as vinhas em socalcos. O alcatrão quase camuflado, acompanha o Rio Douro que parece não se mover enquanto patrulha a fronteira. Não admira que esta paisagem seja reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade.
Já vinha com vontade de parar para juntar numa foto tudo o que via, a estrada, as vinhas e o rio.. Parei junto deste depósito de rega, Terras do Grifo. Resolvi subir aquela pequena escada que se vê na foto, primeiro foi para ver o interior do depósito.. mas depois...dei por mim ali sentado uns bons dez minutos!
Que sossego.. não se ouvia nada que não fosse natural..
Não vi vivalma enquanto ali estive..
Uma paz e um descanso que fazia parecer mentira que trazia mais de 600kms comigo naquela manhã..
Meus amigos, isto é tudo muito bonito mas eu tenho de me ir embora.. cruzei Barca D'Alva e os cruzeiros do Douro, passei pela Nossa Srª dos Caminhos, pelo Escalhão, Figueira de Castelo Rodrigo e Pinhel! Entre estas últimas fiz um troço da N-221 que nunca me convidem para fazer de carro.. curvas e mais curvas, mato de um lado e do outro.. devo ter feito aqueles 20kms entre a 3ª e 4ª mudança..
Nossa Srª dos Caminhos |
cruzeiros do Douro em Barca D'alva |
cruzeiros do Douro em Barca D'alva |
Este dia estava a chegar ao fim, na Guarda agarrei a A23 até Belmonte onde cheguei pelas 16h e fui directo para a Quinta do Rio relaxar..
today was a good day... |
2º dia
Pouca história neste dia.. de Belmonte a Portimão pelo interior.. Resumindo foi A23 até Sarnadas/Retaxo e nacionais e IP's até ao Algarve!Mas mesmo sem história aparecem surpresas.. a primeira foi a passar por Vila Velha de Rodão, e encontrar as Portas de Rodão que estreitam o Tejo, quer ele queira quer não..
Portas de Rodão - Rio Tejo |
A segunda surpresa foi em Nisa, quando parei para levar uns queijinhos, mas desta não tenho fotos. Não esperava aquele sotaque.. pensei se já estaria no Algarve ou se a mercearia onde fui pertenceria a açorianos.. É realmente música para os ouvidos, para os meus pelo menos. Os sotaques são uma identidade de raíz, uma marca muito forte. Penso que quem os tem deve preservá-los e ostentar como a uma bandeira. Eu não tenho nenhum em especial, não sobrou muita música para os lados da Moita, mas com tantos anos de Algarve já vou roubando algumas expressões.
Parei para abastecer em Portalegre e Beja, e os últimos quilómetros já foram feitos com companhia de quem descia para a 35ª Concentração de Motos de Faro. Cheguei a Portimão a tempo do almoço e ainda fiz praia à tarde em Alvor. Foram cerca de 2500 kms numa viagem incrível, e agora tinha duas semanas para descansar e aproveitar as maravilhas do "meu" Algarve..
" O Algarve, para mim, é sempre um dia de férias na pátria. (...) passado o Caldeirão, é como se me tirassem uma carga dos ombros. Sinto-me livre, aliviado e contente (...) no Algarve um poeta tem a sensação de que se pode viver do ar, sem ninguém ter necessidade de pensar sequer no dia de amanhã. (...)
Apaixona-me é a vivência da minha própria felicidade num mundo que me recebe na mais discreta e acolhedora simplicidade. A política não entrou ali; as guerras não passaram ali; a literatura não pontifica ali. E o ritmo das horas não é quebrado pelos solavancos dos jornais e da rádio. Quando as notícias chegam, já é tarde para se lhes acudir. E o esquecimento arquiva a desgraça. (...)
Não, eu não consigo ver o Algarve senão como a miragem dum céu deste mundo, sem nenhum dos atavios que aviltam a condição dum céu. A ideia que tenho dum paraíso terrestre, onde o homem possa viver feliz ao natural, vem-me dali."
TORGA, Miguel - Portugal
Praia do Carvalho |
Praia Vale de Centeanes |
Praia da Rocha |
Praia do Barranquinho |
O roteiro já se repetiu inúmeras vezes, este ano passou por Monte Gordo, Vilamoura, Albufeira e muitas praias favoritas entre Armação de Pêra e Portimão.. Cova Redonda, Marinha, Albandeira, Barranquinho, Carvalho e mais algumas.. mais para barlavento fui ainda à Meia Praia e à do Camilo..
Restaurante O Molhe |
Obrigado KLE por me acompanhares, num ritmo alucinante com média de 1000kms por semana..
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